Rui Santos

Rui Santos na sua crónica de segunda-feira do Record fala de um Sporting Regional.

Podem criticá-lo mas o homem é quem consegue ter uma visão mais clara dos problemas do Sporting.

"Quando para uma final da Taça da Liga, que se prepara anunciadamente com o mesmo afinco de uma final da Champions, se pensa em ter ‘o jogo controlado’, está tudo dito.
O Sporting foi igual a si próprio. Não nos surpreendeu nem se surpreendeu. Foi uma equipa mais uma vez plantada no terreno, sem mobilidade, sem velocidade, sem imaginação, sem magia, sem ambição, sem ousadia, reduzida à sua ‘capacidade’ de marcar posições no relvado, como se os jogadores fossem estacas e estivessem ali – prisioneiros do losango – a assinalar a sua tortura.

O Sporting jogou com medo do Vitória e jogou, fundamentalmente, para não marcar golos. Se fosse ao contrário, devido à diferença de meios, perceber-se-ia. Ser o Vitória a tomar cautelas com o Sporting é algo que faz todo o sentido.

Sem se dar conta de que um treinador do Sporting não pode ter o discurso do treinador do Arrentela, com o máximo respeito por todos os técnicos e todos os clubes deste País, Paulo Bento, agarrado aos seus dogmas, normalmente no final das partidas diz, quase sempre, que ‘tivemos o jogo controlado’. Pois é: o Sporting tem, quase sempre, os jogos controlados. O pior é o resto. O resto é um futebol descolorido, desgarrado e demasiado previsível, com poucas acelerações.

Fica bem a Paulo Bento reconhecer que ‘o Vitória foi um justo vencedor’, porque ‘o Sporting não teve capacidade para criar dificuldades ao adversário’ e ‘a nossa equipa revelou alguma tensão que provocou ansiedade’. Para além da confissão recorrente de que ‘faltou-nos agressividade’. Falta sempre.É caso para perguntar: porquê? É caso para perguntar: por que motivo o Sporting revela tensão, ansiedade e falta de agressividade? Como não creio que ‘certa imprensa’ não tenha esse dom, presumo que o problema deve estar em Alvalade.

O Sporting continua a enganar-se a si próprio: protegem-se uns aos outros num registo de incomparável mediocridade. Chega a ser desolador como um ‘Sporting de Portugal’ se comporta como um Sporting regional. Medroso, acanhado, conspirativo, sem alma. Este Sporting não honra nem a história nem a memória de um grande clube."